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Brazilian Bluegrass

Uri Kohen fala sobre o Westport Folk & Bluegrass Festival

Foto do escritor: Cesar BenzoniCesar Benzoni

Apesar de ser um estilo de música norte-americano, o bluegrass rapidamente se espalhou e gerou fãs e apreciadores no mundo inteiro. A europa foi desenvolvendo um cenário único e diversos festivais começaram a surgir em países como França, Inglaterra, Itália, Bélgica e Irlanda. Um dos principais festivais da europa acontece na pequena e receptiva cidade de Westport. Este ano, o festival acontecerá online no próximo final de semana (11, 12 e 13 de Junho), dando oportunidade para pessoas no mundo inteiro participarem sem sair de casa. O evento também será exibido no canal da principal casa de show de bluegrass do mundo, o Station Inn. Para trazer mais dessa atmosfera deste maravilhoso evento para nosso público brasileiro, conversamos com Uri Kohen, idealizador e organizador do Westport Folk & Bluegrass Festival.


 

BRBMA: Antes de mais nada, gostaríamos de saber mais sobre você e como você iniciou na produção deste festival.

Uri: Eu cheguei na Irlanda em 1998, vindo de Israel, seguindo meu sonho de infância de viver na Irlanda. Eu sempre soube que iria morar na Irlanda, eu não tenho certeza do porquê, mas eu sempre soube. Em Israel eu trabalhava como técnico de som, mas quando vim para a Irlanda eu não queria mais fazer áudio. Eu só queria trabalhar em um pub. Após alguns anos, em 2004 eu formei minha produtora Electric Cave Productions. A ideia da empresa não era fazer dinheiro, mas sim produzir shows em Westport, e a ideia principal era investir na qualidade das produções, então no começo nós só fizemos alguns tributos e shows pequenos. Usávamos apenas artistas locais, porque a ideia era mudar a atitude em relação aos shows na cidade. Houve muito investimento em cartazes, em jornais locais, em som. Não seria mais apenas para pessoas sentadas no canto do bar, e sim sobre assistir um evento, e então comecei a fazer eventos maiores. Nós fizemos um bem grande a fim de arrecadar dinheiro para as pessoas que sofreram com o tsunami, por exemplo.

Eu queria fazer um grande evento, sabe? Na época eu não sabia da existência do bluegrass, nunca tinha ouvido falar desse tipo de música. Eu era um grande seguidor da música folk, gostava de Pete Seeger, Bob Dylan, Neil Young, The Band, Creedence Clearwater Revival, muitos dos artistas que foram influenciadas por bluegrass, mas eu não conhecia ninguém do bluegrass. Então, quando eu estava buscando fazer esse grande evento, alguém me disse que bluegrass era uma boa ideia, e eu gostei muito! Eu perguntei qual era a melhor banda de bluegrass na Irlanda e alguém me disse que era uma banda chamada The Lee Valley String Band, de Cork. Eu liguei para eles e perguntei se gostariam de tocar em um novo festival de bluegrass, e eu era muito convencido (risos). Não diria arrogante, mas eu dizia "sim, estou fazendo um festival e é bem importante." Eles concordaram e fizemos um evento com apenas três shows, um na sexta-feira, um no sábado e um pequeno no domingo, e foi um enorme sucesso porque as pessoas em Westport realmente apareceram. Muitas pessoas da comunidade de Bluegrass da Irlanda vieram ver qual era a novidade - porquê alguém de Westport que nunca ouvimos falar decidiu fazer um festival de bluegrass, e todos vieram para nos apoiar e isso foi muito legal da parte deles. Na época eu só estava pensando em fazer apenas esse evento, mas o sucesso foi tão grande que decidimos fazer um segundo ano, em 2008, e aí já trouxemos a então principal banda de bluegrass na europa na época, chamada Four Wheel Drive, com membros da Alemanha, Holanda e Bélgica, além de outras bandas. O festival foi muito bem sucedido novamente, mas sem sucesso financeiro.


E então no terceiro ano, novamente, eu trouxe a outra melhor banda na Europa na época, da Holanda, chamada Bluegrass Boogie Man. E novamente foi um excelente festival,

mas não muito bom financeiramente. No quarto ano eu tive que parar e juntar

fundos, pois eu estava bancando tudo sozinho, com ajuda de alguns amigos, mas sem

nenhum comitê. Era apenas eu. Conseguimos formar um comitê de quatro pessoas e juntos começamos a ter uma visão melhor do festival - qual tipo de banda que queremos; que tipo de festival queremos realizar... Uma das principais coisas que decidimos foi o fato do festival ser apenas em lugares internos, e a cada ano ano nós iríamos adicionar mais um local, se necessário. Não queríamos o pensamento de "o festival é um grande sucesso, vamos trazer muitas pessoas e fazer muito dinheiro". Não era sobre isso. Era sobre criar uma atmosfera na cidade, apoiar, promover a cidade de Westport, que é uma cidade adorável, apresentar o bluegrass às pessoas em Westport e apresentar Westport para as pessoas que eram fãs de bluegrass.


Então continuamos desse jeito, e a cada ano nós fomos conseguindo trazer artistas maiores e ir conseguindo mais espaços, e mudar nossa abordagem, investindo mais no site, nas redes sociais, em mídia local, na mídia nacional, na imagem toda do festival, criando camisetas, vendendo mercadoria, etc. É desta maneira que fazemos acontecer, e agora estamos definitivamente entre os maiores eventos de bluegrass na Irlanda, com certeza. Este ano é 15º ano do festival.


BRBMA: Este é um festival que conta muito com a relação pessoal e interação. Como foi adaptar à esta situação do Covid-19 e criar um evento online?


Uri: Então, obviamente o festival era principalmente sobre interação e pessoas vindo

a partir de, literalmente, todos os cantos do mundo, tanto músicos quanto fãs da música, sendo possível juntar pessoas dos EUA com pessoas de Barcelona, ou da Noruega, da Irlanda... E eu acho que o bluegrass é muito sobre a música em si e sobre tocar e improvisar juntos. É uma coisa muito boa. Desculpe, eu estou meio que mudando de assunto, mas a coisa boa do bluegrass é poder compartilhar seu conhecimento, e não competir. Os músicos são bem receptivos. Se você não é muito bom e você está sentado em uma jam session onde há muitos músicos bons, eles encontrarão um caminho através da música para que você entenda isso. Que talvez você tenha que sair, porque eles vão tocar algo mais difícil, mas eles nunca vão te dizer diretamente e eles nunca tentarão fazer você se sentir indesejado.

Então essa ideia era realmente o que impulsionava o festival, e fazê-lo online, de uma maneira meio fria e não pessoal, foi uma coisa muito difícil para nós. No ano 2020 já tínhamos toda a programação fechada. Tínhamos dez bandas dos EUA, tínhamos bandas da República Checa, Alemanha, Irlanda... Seria muito grande. E no fim, o que fizemos foi pedir para seis ou sete bandas para gravar uma ou duas canções especialmente para o festival, e nós transmitimos essas canções na hora exata em que as bandas iriam se apresentar no evento original. Também temos um enorme arquivo no Youtube de todos os festivais, desde o primeiro ano em 2007, com praticamente todos os shows que já aconteceram o festival. Então conseguimos transmitir através do Facebook estes shows específicos no momento em que eles estariam acontecendo.


Houve interação das pessoas e dos músicos, mas tudo por escrito. Para mim foi um pouco vazio. Este ano esperamos até quase Março para tomar uma decisão sobre o que iríamos fazer, então decidimos criar três cenários, e pensamos - se a Irlanda abrir para negócios, vamos fazer um evento ao vivo; se a Irlanda estiver aberta para negócios, mas as pessoas não podem vir do exterior, vamos fazer tal e tal; se tudo estiver fechado nós vamos fazer online. E então, no início de Abril, decidimos que teríamos que provavelmente ir pela opção número três e começar a criar um evento online.


Tivemos muita sorte que no início do ano nós fizemos uma parceria com Claremorris Folk Festival aqui no condado de Mayo, e através do Arts Council conseguimos um edital para comprar equipamento de streaming. Eu entrei em contato com o Station Inn em Nashville e perguntei - pois eu sabia que eles fazem shows por lá todas as noites - se seria possível ter uma das bandas para tocar cerca de 20 minutos, destinado para o nosso festival. Eles disseram que é uma boa ideia, mas que tinham uma ideia melhor - eles têm o próprio canal de TV, com muitos assinantes, e que poderiam transmitir todo o festival através desse canal de forma automática. O Station Inn é o número um de bluegrass do mundo e agora está associado com o Westport Folk & Bluegrass Festival. Isso é grande! Dois dias após a primeira conversa com a equipe do Station Inn, soube que uma das principais bandas de bluegrass nos EUA no momento, The Po’ Rambling Boys - nomeados ao Grammy - iriam gravar seu próprio show lá. Eu conheço o bandolinista deles. Então conversamos os três e eles concordaram em fazer 20 minutos para nós.


Percebemos que a qualidade da gravação teria que ser muito alto padrão. Então foi uma colaboração entre o Station Inn como casa de show e TV, Westport Folk & Bluegrass Festival, o Claremorries Folk Festival, também gravamos em um pub chamado The White Horse em Balincolin, condado de Cork, e também gravamos um show em Belfast. Também foi possível encomendar concertos especiais, então ao invés de apenas pedir que uma banda venha e se apresente no festival, montamos alguns shows especificamente para nosso evento. Um ótimo exemplo nesse caso, que é uma das principais figuras na cena irlandesa do bluegrass, vinda de Belfast, é Mel Corey, que nos deixou muito repentinamente em Janeiro, vítima do Covid-19. Então recrutamos os músicos da "All-Stars", da Irlanda do Norte para fazer um show em sua memória. Isso é algo que nos orgulhamos muito, porque acredito ser uma bela homenagem para sua família e amigos. Na sexta-feira à noite do festival contaremos com uma banda de Old-Time aqui de Westport, e depois celebraremos as mulheres na música folk - Teremos uma cantora e compositora de Kerry; depois The Raines, que é um trio feminino; e depois Noriana, Nicola e Pauline. Porque este ainda é um grande problema, especialmente no bluegrass, onde não há espaço suficiente para as mulheres. Mas não queríamos anunciar como uma grande causa, e sim deixar a programação falar por nós.


Então mesmo sendo somente online, nós do um comitê estamos muito orgulhosos do resultado. O evento acontecerá em três noites, cada noite com cerca de uma hora e meia à duas horas, sendo que cada grupo se apresenta durante 20 a 25 minutos. É uma boa forma de assistir e conhecer vários artistas em um evento só. Então é isso, como transformar uma situação ruim em algo positivo. Fizemos grandes parcerias com as marcas Ear Trumpet Labs, Radio Bristol, Station Inn... Eu me sinto como se agora estivéssemos brincando no parquinho das crianças maiores (risos).


BRBMA: Gostaria de deixar alguma mensagem de boas-vindas para o pessoal da comunidade de bluegrass do Brasil, que provavelmente assistirá o festival?

Uri: Bem, antes de tudo, Westport é um dos principais pontos turísticos da Irlanda, é uma cidade que acolhe a todos, como você sabe. Então é sempre bom vir a Westport. Em termos de bluegrass e música folk eu acho que o fato de nós darmos espaço aos artistas americanos, bandas em ascensão, bandas estabelecidas, artistas locais, de estarmos tratando todos os nossos artistas igualmente, de darmos o mesmo tempo de show à todos, faz o nosso festival muito acolhedor.


Só há um problema se alguém do Brasil vier ao nosso festival. Eles vão querer vir de novo e de novo, porque isso é o que acontece com a maioria pessoas, elas se apaixonam por nosso festival (risos). E nós como um comitê, conhecemos quase todas as pessoas que vem ao nosso festival pelo nome. Pessoas da cidade se reconhecem dos anos anteriores. Nós criamos o ambiente leve e de diversão para as pessoas, aos fãs de música ou músicos, e depois disso céu é o limite. Então à todos os brasileiros às pessoas de todo o mundo, adoraríamos ver vocês aqui em 2022 pessoalmente e realmente esperamos que gostem do nosso festival online e conheçam os artistas, as marcas parceiras e a nossa própria cidade na Irlanda. Não é à toa que carregamos o nome da cidade no nome do festival.


Quando eu comecei o festival, uma pessoa me disse que tinha muita sorte porque teria a oportunidade de ouvir e assistir bluegrass, e melhor ainda - em Westport!

O festival acontece em 11 locais diferentes pela cidade, além das jams que acontecem na rua espontaneamente, então se você for de um show para outro, você consegue realmente sentir o que é Westport. E é por isso que não queremos crescer em tamanho e colocar uma grande tenda em um campo. Queremos mantê-lo assim, no centro da cidade, com nosso próprio pessoal, com nossas próprias casas de shows. É isto que está por trás desse festival incrível.

 

Para garantir seu ingresso ao festival online, clique aqui e selecione a opção desejada. Depois da transmição, os shows continuarão disponiveis no site para você rever quando quiser.


A programação contará com:


Sexta- Feira:

The Clew Bay Critters

Lorraine Nash

The Raines

Pauline Scanlon, Noriana Kennedy, Nicola Joyce


Sábado:

Grits & Gravy String Band

The Rocky Top String Band

Ten-Hens - Tribute to Mel Corry

The Po' Ramblin Boys


Domingo:

The Brendan Butler Trio

Darragh O'Dea

David Hope

John Blek

Ger O'Donnell

1 Comment


marcos-banjo
Jun 10, 2021

Excelente!

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